“O Brasil perdeu 4,6 milhões de leitores entre 2015 e 2019, segundo apontou a pesquisa “Retratos da leitura no Brasil”, divulgada em 11 de Setembro de 2020. O levantamento, feito pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural, foi realizado em 208 municípios de 26 estados entre outubro de 2019 e janeiro de 2020.” – Portal Globo.com (11/09/2020)
Depois de ter escrito sobre “Escrita”, resolvi escrever sobre “Leitura”. Não a Livraria, mas o “ato ou efeito de ler” mesmo, hábito cada vez raro. Hábito, é bem da verdade, que eu havia perdido e recuperei no final do ano passado graças ao todo poderoso Bezos, afinal, aproveitei o período da Black Friday e comprei um Kindle. Foi o impulso que eu precisava para voltar a ler, pois o pouco tempo que tenho é dentro de um ônibus em movimento e livros de papel, embora mais prazerosos de ler do que no leitor digital, não são tão práticos.
A Leitura é um hábito que me acompanhou desde cedo. Na verdade, não me lembro ao certo quando comecei a ler por prazer, uma vez que dos livros que li obrigado pela escola poucos se salvaram. Sei que devo essa paixão por livros à minha mãe, que pegou este hábito com o meu avô.

Comecei a ler em casa os livros que tinha disponível. Os recursos e a disponibilidade de material não eram fáceis como hoje (Internet não existia ainda) e tive a sorte de ter uma Mãe com ótimo gosto para livros. Além do que era obrigado a ler no colégio (e não gostava) lia Agatha Christie e sempre que possível nos livros da maravilhosa coleção Vaga-Lume (que para a minha alegria AINDA EXISTE!). O acesso a livros era difícil, tendo poucas traduções e livros importados eram muito caros (e eu gastava essa minha cota com livros de AD&D que nem eram traduzidos na época). Para ler tínhamos que recorrer às bibliotecas das escolas (que raramente tinham livros de ficção) ou as públicas, que eram longe e você precisaria voltar para devolver o livro depois. Sem falar que conseguir um livro novo em uma biblioteca era um desafio ainda maior do que conseguir um lançamento na locadora (velho, eu sei…) pois elas eram gratuitas e dependiam muito mais de doações do que do Governo.
Um dos primeiros livros que li foi o Droga da Obediência, lembro inclusive da capa (no caso não era da coleção Vaga Lume, mas caberia tranquilamente). É o primeiro livro do qual eu tenho memória e ainda tenho lembrança da história e de partes do livro até hoje (devem ter uns 30 anos que li). Eram livros que nos tratavam (leitores jovens) com respeito e não tentavam nos proteger do mundo, mas nos preparar para ele. Não sei como estão os livros voltado para este público hoje, mas a minha expectativa é baixa.

O brasileiro nunca foi conhecido pelo seu hábito de leitura e a situação só está piorando (e não vejo perspectiva para melhoras). Estudo apresentado no final do ano passado mostrou uma redução de 4,6 milhões de leitores em 5 anos. A queda foi maior nas classes A e B do que nas C, D e E (natural, pois o hábito de leitura também é maior nas classes A e B) e a grande maioria das pessoas lê a Bíblia (e outros livros religiosos) ou por obrigação da escola. O que antes era feito por puro prazer, com o avanço das redes sociais, se tornou obrigação. As pessoas (de modo geral) perderam o hábito de leitura de livros ou textos longos, se prendendo a textos menores (blogs como esse aqui inclusos) ou mesmo apenas manchetes.
A leitura, desde cedo, ajuda o futuro adulto a pensar e a interpretar aquilo que lê ou vê. A ter um senso de julgamento, análise crítica, a não tomar como certa toda a informação que recebe. E não apenas a absorver a informação, mas também transmiti-la.
E a informação já é coisa do passado. Tudo o que a humanidade produziu até hoje está, literalmente, na palma de nossas mãos. Se alguém está lendo isso aqui, as chances são grandes de que o esteja fazendo de um celular ou tablet. Nunca o conhecimento esteve tão acessível e ao mesmo tempo tão distante, pois de nada adianta o acesso a milhares de bibliotecas virtuais se o nosso poder de leitura e compreensão está cada vez mais limitado.