Respirei fundo algumas vezes, disse para mim mesmo que eu estava bem, não acreditei nem um pouco e segui em frente.
Peguei esse livro do King para ler sem grandes pretensões, pois mesmo sendo fã dele, sei que depois de quase 80 livros publicados é difícil escrever algo inovador e bom. Pois bem, ele conseguiu.
O livro conta a história de Charlie Reade, um garoto de 16 anos como qualquer outro, mas que não teve uma vida fácil. Perdeu a mãe em um acidente quando tinha 10 anos e teve que conviver com um pai alcóolatra que não superou a perda da esposa e, apenas recentemente, venceu o vício.
Ele voltava um dia para casa da escola quando ouviu um cachorro latindo, vindo da casa estranha (casa do Psicose, como ele e os amigos chamam) e resolve investigar. O morador, idoso, havia caído da escada e fraturado a perna. Certamente se não tivesse sido resgatado por Charlie iria falecer ali mesmo.
O velho em questão não tem amigos ou familia, de modo que toda a primeira parte do livro (cerca de um terço) trata justamente da relação entre Charlie, Howard Bowditch (o velho) e Radar (o cachorro que na verdade é uma cadela). Nosso protagonista sente que ao ajudá-lo está cumprindo uma promessa que fez a Deus, para que seu pai parasse de beber.
O melhor dessa parte é que ela não parece um livro de Stephen King, salvo por alguns detalhes. Temos os três personagens interagindo de forma real e seu relacionamento e confiança crescendo pouco a pouco. Vemos essa evolução de forma clara e muito bem escrita, como somente um grande contado de histórias é capaz de fazer.
Então temos King mostrando as suas caras.
Na segunda parte do livro (vou evitar detalhes para evitar Spoilers ao máximo) temos a ida de nosso protagonista para um Mundo Fantástico e a apresentação desse mundo para ele e para nós, leitores. Ela vai até pouco depois da metade do livro e a parte menos empolgante.
Temos aqui a apresentação de diversos novos personagens à trama, de uma forma que é longa para quem está lendo e mesmo assim meio corrida. Fica um sentimento dúbio depois da profundidade dada aos personagens na primeira parte do livro.
Então, enfim, a aventura começa.
Na parte final do livro temos a história sobre a qual o livro foi feito. É uma história complexa e fantástica, ainda que saindo um pouco do tema Terror que tanto fez o nome do autor. Temos, sim, sangue e mortes, assim como mortos-vivos e tudo o mais, mas o foco da história não é esse, e sim nosso improvável herói.
Resumindo
O livro é uma excelente história para quem gosta de Fantasia e Terror, e temos aqui Stephen King mostrando o porque de ser um dos autores mais lidos do mundo. Temos uma história fluida e personagens profundos e bem descritos, com qualidade e defeitos como qualquer um de nós.
É um livro moderno (diferente do Trocas Macabras) e que consegue nos prender à medida que a história avança e os cenários mudam. Passamos a torcer pelo protagonista não apenas por ele estar do lado certo, mas também porque passamos a gostar e nos identificar com ele. Com suas qualidades e defeitos.
Conto do Fadas
Se você leu até aqui, parabéns e obrigado. Como bônus vou explicar o motivo do nome do livro: Conto de Fadas.
Não se trata de contos de fadas macabros (ou mais macabros que os originais). Na verdade é a forma como o protagonista (um jovem de 16 anos) mentaliza todas as suas aventuras e o mundo fantástico para o qual ele vai. Ele passa a fazer referências às histórias que conhece desde a primeira parte do livro e isso traz ele ainda mais próximo de um garoto normal (e real).
Um livro mais do que recomendado.
Link para o livro na Amazon.
Café com Dexter 